segunda-feira, 9 de agosto de 2010

À meia-dúzia é mais barato

Etapa dura e exigente com direito a carro de apoio. Realizada com muita cabeça... e algumas pernas, num dia quente e abafado com chuva suja à mistura. Seis subidas, seis desafios, seis episódios... uma volta dos diabos!

Cabeço da Rosa
Uma subida com um início bastante duro que depois suaviza perto do topo, 150 metros de desnível ao longo de 2,5 km e mesmo à saída de Alverca, constitui um excelente treino e é muitas vezes ferozmente disputada. Desta feita, no entanto, era apenas a primeira de 6. Daí que não surpreendesse que a abordagem ficasse marcada por...
Contenção, muita contenção. Desde os primeiros metros da subida e até à ponte que transpõe a CREL, onde aguardavam o Tomané, o Luís (Focus) e o Isaac (o homem que andou na Volta) o ritmo foi baixíssimo a espelhar bem o respeito que o colectivo tinha pelas dificultadas agendadas. Após a integração do trio surgiriam algumas movimentações. O Nuno distanciou-se naturalmente e sem intencionalidade na frente levando mais uns quantos com ele. No topo a passagem foi tranquila e sem discussão. Descida igualmente pacífica, explorando os benefícios de uma posição aero, e chegada a Bucelas ao mesmo tempo que o Carlos do Barro, que aí integrou o pelotão.

Forte de Alqueidão
A segunda escalada do dia era, à partida, a mais acessível. 12 km a 3%, com fases de descanso. Uma boa subida para fazer em 53, se a volta não for muito dura, o que não era claramente o caso.
O Isaac tinha outro destino (Ericeira) e seguindo num passo conveniente para a sua categoria depressa ganhou espaço em relação ao restantes, à excepção do Nuno que fez por o acompanhar acabando assim por desaparecer do radar durante alguns minutos. Cá atrás eu e o Midas seguíamos em eco-driving, com o "fantasma" Capelã bem presente. De tempos a tempos, na sequência de alterações de velocidade imposta na frente do pelotão deixávamos-nos "escorregar" por breves instantes para minimizar o consumo. Na zona do ferro velho e com o final da subida a aproximar-se o Zé meteu um passo forte, em crescendo, que viria a culminar com um quase-sprint (não foi a fundo) no Forte ao qual eu e o Midas (pelo menos) correspondemos, seguindo-o de perto.
Na ligação ao Sobral arranquei para fazer a descida a boa velocidade longe do pelotão, que me permitisse negociar as curvas mais despreocupado. O Midas respondeu e tomou a dianteira: melhor ainda! Limitando-me a aproveitar a "linha" que ele ia "traçando" rapidamente voltámos ao plano e entramos na vila. Tempo para eu dar duas ou três voltas à rotunda a aguardar pelos restantes e seguimos em direcção à Arruda, mais uma vez em poupança de esforços, apesar de na chegada o Carlos do Barro, o Nuno e o Zé terem cavado ainda alguma vantagem. Depois de um pequeno compasso de espera transpuseram-se os obstáculos do interior da vila com a maior das precauções pois o desafio-dos-desafios do dia estava mesmo ali ao pé...

Capelã
A vida de um praticante de ciclismo da nossa região pode ser dividida em duas fases distintas: a fase antes de subir a Capelã e a fase após subir a Capelã. Este mini-Angliru do Oeste ganhou um estatuto místico por via das inúmeras histórias contadas nas lojas de bicicletas, nos cafés e, ultimamente, nos fóruns de internet e blogs. Ultrapassar este obstáculo passou a ser um testamento de condição física, um pouco como um brevet oficioso que atesta as capacidades físicas dos que o ousam desafiar. Subir a corrente até ao carreto grande, um gole de água, respirar fundo e cá vai disto.
"Meus Srs. façam o favor de se divertirem." - Diz o Carlos ao iniciar a primeira curva.
As rampas sucedem-se e a dureza aumenta. Torna-se impreterível aproveitar as fazes de "descanço" com 9 e 10% para pedalar sentado porque é preciso poupar a força dos glúteos para as paredes a 20%. Na frente destacam-se sem contestação os levezinhos: Zé, Nuno e Carlos do Barro. Sigo em quarto no limite mínimo da velocidade que os andamentos permitem. Na rampa mais inclinada oiço um carro a aproximar-se e o barulho característico de um motor de combustão interna a "ir abaixo". Não é propriamente surpreendente, ainda para mais estando mesmo ali, no pior do pior. A cassete tem dentes a menos... as pernas cedem face ao esforço e sou obrigado a "ir buscar" os drops do guiador, a cerrar os dentes e a zig-zaguear aproveitando ao máximo a largura da estrada. As costas começam a querer comunicar comigo, por via da dor, está claro. O trio da frente segue a ritmo razoável, que é o melhor que se arranja por aquelas bandas. O peso pluma do Barro faz um pequeno compasso de espera antes do gancho à esquerda, que antecede a última parte da subida propriamente dita. Quando a inclinação desce para um escassos 7% parece que se vai a descer. Alcanço o Carlos um pouco à frente numa altura em que este estava já a descomprimir. Dou continuidade ao ritmo e parto no encalço dos dois da frente, alcançando-os a escassos metros da ligação à estrada da Mata. Desmonto e deito-me de costas na ilha que limita e define o entroncamento para aliviar a dor. Esperam-se alguns minutos para reagrupamento e partilha de impressões. Alguns estreantes na Capelã, incluindo o Carlos #2 e o Zé.
"Para fazer uma vez por ano" - comenta
Eu cá concordo...
Parte-se de novo para Bucelas via Arranhó ao invés de Santiago dos Velhos como tinha sido planeado. Depois do suplício não me apercebo imediatamente do erro e quando este me ocorre não me apetece sequer contestá-lo. A descida para Bucelas foi para descansar e nada mais. Apenas o Tomané partiu a certa altura isolado para ir ao encontro da esposa, que aguardava à saída da povoação há cerca de uma hora. Antes disso, e não tendo essa informação chegado da melhor forma a todos (não sabíamos ao certo o quão longe estava o carro) houve pausa no chafariz. Um pouco mais à frente, e já em direcção ao Freixial, lá estava o Tomané junto da Inês, pronta para distribuir água fresca. A maioria seguiu, sendo que eu e o Jorge ficamos a abastecer, acabando por partir com considerável atraso para os restantes antes da quarta subida do dia.

Ribas
Local de eleição para fazer séries a subir, tipicamente integrado num pequeno circuito Freixial - Ribas - Cabeço de Montachique - Vale de são Gião - Freixial. O Zé faz isto sete vezes! Se não souberem onde andam os vossos amigos ciclistas que fazem lembrar o Pantani, nos dias em que não aparecem para treinar convosco, o mais certo é andarem por aqui. Os 6% de pendente média mascaram a dureza da primeira rampa e da passagem pelo parque natural.
Não faço ideia como se passaram as coisa na frente mas um dos "repórteres" garante que houve animação e luta pela passagem no topo entre o Nuno e o Midas.
Cá atrás, depois de ter aproveitado o pouco balanço que se consegue trazer de baixo e fazer a primeira rampa mais rápido aguardei pelo Jorge e juntos seguimos até alto de Montachique onde aguardavam os "fugitivos". Descida para a Lousa e nova oportunidade de afinar as posturas aerodinâmicas, com o Luís "Focus" a queixar-se não ser capaz de me ultrapassar. Ainda tem de ganhar muita banha para isso. :P
Pausa para café, "furada" pelo Carlos do Barro como de costume, que prefere velar pela saúde dos músculos e não parar. Compreensível. Desta forma acabou por fazer a subida de Montemuro isolado.

Montemuro
Dois quilómetros, 150 metros de desnível, abrigada do vento e com bastante sombra esta subida é uma escolha popular nos dias quentes. A ligação à Venda do Pinheiro implica, no entanto, uma rampa adicional que está longe de poder ser desprezada. Mais um quilómetro e meio aos mesmos 6% até aos 341 metros de altitude.
Ritmo contido, mais uma vez. Saí um pouco tarde do café na companhia do Midas, do Jorge e do Nuno, se a memória não me falha. Facilmente nos juntámos aos restante, numa altura em que começam a cair alguns pingos de chuva... carregados de pó. Surgiram depois algumas acelerações do Nuno, outras do Midas. Ainda se picaram os dois perto do final da primeira parte da subida onde já esperava o Zé e o Tomané. Partimos juntos para a segunda fase. Segui na roda do Zé algum tempo mas na parte mais selectiva, e com o pulso a subir prontamente para os 83%, larguei e fui num ritmo mais poupadinho. O Zé ganhou assim ampla vantagem e chegou ao topo isolado, debaixo de chuva intensa. O Nuno, que entretanto partira de trás e tinha feito notar a sua presença com mais uns "elogios" à corrente da sua bicicleta que continua saltitona, acabou por me ultrapassar antes do topo e foi 3º. Pausa para reagrupar e para encharcar a ligação à venda foi feita com todo o cuidado porque com é já bem sabido as primeiras chuvas tendem a deixar o asfalto um tão ou quanto amanteigado.
Quando se desceu para a Lousa a chuva deu umas tréguas. Aproveitei o embalo para passar para a dianteira e ganhar, de forma consentida e sem grande esforço, algum espaço. Achei que seria uma boa altura para tentar um fuga e dar aos levezinhos um desafio por isso fiz a aproximação à derradeira subida completamente lançado e passando um pouco à queima de um carro que seguia em sentido inverso.

Salemas
Mais um calvário para quem não se dá particularmente bem na montanha. 2.3 km a 8% de inclinação média que abre logo com uma rampa de 15% seguida logo após por uma de 11%. Tem uma fase de descanso antes do último meio-quilómetro a 7%.
Entrei a fundo, pulsação logo no limite, e foi sempre a puxar, embora consciente que não tinha grande hipótese de chegar destacado. Passados os primeiros 300 metros ao olhar para trás vejo o Carlos do Barro, por quem tinha passado em Lousa, onde este aguardara pelo grupo. Pouco depois volto a conferir a distância. Fuga condenada ao fracasso. No entanto, no topo da primeira fase da subida, antes da localidade que empresta o nome à subida, estava mais uma vez a Inês e a água fresca. Parei para reabastecer e o Carlos, logo ali, parou também, o mesmo se passando com o Zé que surgiu também enquanto por ali estava.
Mas o Carlos logo retomou a marcha e eu aproveitei a boleia, no instante em que o Nuno chega também ao local e opta por não parar. Tive de me aplicar novamente para acompanhar o ritmo q.b. do Carlos até ao fim da subida. Já com o Nuno e com o Zé aguardámos alguns minutos pelos outros e... pela chuva. Mais uma vez cuidados redobrados na descida para Sete Casas, onde chegámos já com a estrada praticamente seca.
Antes da chegada a Vialonga para a habitual pausa do rescaldo, houve ainda oportunidade de ver o Midas subir a rampa ao pé da loja do Pina em crenques e nos drops _quase_ até ao topo (faltou um bocadinho assim), um duelo de Luíses, com o Midas a responder tarde a um ataque do outro Luís no topo que antecede a rotunda do Zambujal com o Midas a responder e, quando já estava tudo a descomprimir, lá vai mais um sprint do Tomané na variante.
Cervejas e 7up's, dois dedos de conversa, rescaldo e opiniões. E por falar em opiniões; camisola das bolinhas para o Zé, pela regularidade no alto de cada uma das subidas e a dos pontos vai para o Luís de Alverca pelo sprint venenoso no último topo da etapa.

No próximo Domingo a Volta passa perto, pelo que a volta deverá ser mais curta. Aceitam-se sugestões.

Boa semana e boas férias, se for o caso.

6 comentários:

  1. Boa tarde pessoal
    Mais uma grande volta,deu para tudo fugas,brincadeiras e sofrimento.
    Pessoal a volta é muito boa muito bem elaborado pelo grande ZÈ,mas eu propunha fazer esta volta, mas totalmente o contrário para a ultima subida ser a capelã porque ser a capelã a 2 subida não é dificil de a ultrapassar.Portando Edgar tens de tratar disso.
    Bons treinos.
    As melhoras para o nosso amigo Gaza que bastanta falta fez nestas subidas para animar mais isto.
    Um abraço.

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  2. BOAS MOINAS:expectacular volta com a capelâ a ser a cereja em cima do bolo,EDEGAR acho que a camisola das bolinhas fica bem entregue a todos os moinas uns com mais ou menos sacrificios passaram todos os obstáculos com muita coragem.vou estar ausente 15 dias, boas voltas para quem andar:cumprimentos a todos ZÉ MOINA:

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  3. Boas Pessoal,

    Mais uma grande crónica do Edgar, descrição exacta do que se passou, por isso parabéns deves estar na profissão errada, devias ser jornalista...

    Em relação á volta correu como esperava, com alguma dificuldade em passar a capelã, e as outras ascensões feitas ao meu ritmo.

    Acho que estamos todos de parabéns porque chegamos ao fim da volta ainda com alguma energia.

    Agradecimentos ao carro de apoio, que bem que soube a água fresquinha no final a subida de Salemas, realmente este Tomané é incrivel.

    Para a semana podiamos fazer montejunto com saida de alverca ás 7h00, para o pessoal ir ver a volta ás 14h em Mafra o que acham?

    Abraços a todos

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  4. Grandes Moinas, belo treino o de Domingo.
    Queria agradeser ao Tó Mané e á sua esposa pela água fresquinha.
    Boas férias para o Zé e restante familia.
    Um grande abraço ao Gazela.

    Agora desculpem lá "foda-se para a Capelã"
    Carlos(Barro)

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  5. Boa tarde Moinas

    Parabéns pela uma crónica do Edgar, mais uma vez bem elaborada
    Mais uma volta espectacular, tendo em conta os comentários que vocês aqui deixaram.
    Deixa-me um saudade enorme ler as vossas crónicas e comentários, e dá para verificar que estão numa óptima forma física.
    Espero poder recuperar o mais breve possível, para poder desfrutar da vossa companhia (quando vocês estiverem em ritmo mais moderado).
    Continuação de bons treinos, e boas férias para quem vai goza-las
    Um grande abraço a todos
    Gaza

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  6. Bom dia Moinas,

    mas que volta esta!!!!
    eu era pra ir mas falei com o Jorge e ele meteu-me medo a dizer que era duro e para ficar na caminha e foi isso que fiz...eheheh.
    Agora mais a serio era mesmo para ir mas com as dificuldades da volta achei por bem não aparecer para não causar muita mossa no pessoal pois iriam estar constantemente à minha espera e era chato...
    Agora vou entrar de férias e em principio não vou aparecer (este domingo se ainda cá estiver vou com vocês).
    Grande abraço a todos, boas férias para quem de direito e as melhoras para o Gazela(tá quase!!)

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