terça-feira, 6 de abril de 2010

Infantado: a história possível

Num traçado sem dificuldades aparentes o momento do dia acabaria por ser proporcionado na sequência de uma avaria mecânica ocorrida a sensivelmente metade do percurso.

Foram 10 os elementos que conseguiram conjugar as exigências familiares da Páscoa com o "calendário" velocipédico apresentando-se à hora habitual para participar em mais uma volta com o selo Ciclomoina. Logo à partida se percebeu que o apelo à velocidade que tentara transmitir quando fiz a apresentação da etapa no blog iria ser devidamente correspondido e que não haveriam grandes momentos de descontracção. O tal apelo tinha sido proferido, no entanto, antes do Alexandre me ter "desencaminhado" para a clássica R-Bikes Ota-Fátima-Ota (podem ler a crónica do Ricardo Costa, PinaBike, aqui) que se realizara dois dias antes e me deixara as pernas completamente... pisadas, forçando-me mais uma vez a tentar encontrar um compromisso entre resguardar-me o mais possível e não desiludir nos momentos de passagem pela frente.

Vila Franca chegou assim rapidamente graças ao trabalho do Jorge e do Marco, se a memória não me trai, e é no empedrado que a integridade do grupo é contestada pela primeira vez. Na entrada para a ponte fez-se um pequeno compasso de espera para juntar novamente o grupo mas o Gazela acaba por ganhar alguns metros no topo obrigando os restantes a terem de se aplicar mais do que o costume para concluir a recolagem. A longa recta foi feita em crescendo com toda a gente a participar na frente. O primeiro a destoar foi o Tomané que, já a meio caminho entre o porto alto e a rotunda do Infantado e quando se rolava a 38 km/h, resolve "puxar" a velocidade para os 42 km/h e testar a "cola" que ia segurando o grupo. Até esta altura sempre que tentava passar para a frente e meter um ritmo que me servisse era imediatamente ultrapassado por outros claramente mais folgados e insatisfeitos com o andamento e por momentos receei não estar à altura de acompanhar aquela malta.

Após a viragem à direita em direcção a Alcochete o ritmo manteve-se elevado mas, subitamente, a corrente da bicicleta do Gazela começou a dar indicações de não estar muito confortável em cima da cassete, saltando de tempos a tempos. Parou-se em cima de uma pequena ponte situada no primeiro quilómetro da ligação ao campo de tiro para averiguar o que se passava. O problema era um elo da corrente, desmontada na véspera para manutenção, que por não ter sido convenientemente encaixado estava agora muito mal tratado. Felizmente o nosso enfermeiro trazia um remédio sob a forma de elo rápido que, em conjunto com um cravador de correntes que se descobriu no meio de uma multitool do Tomané, salvou o dia. No meio de muita animação e risos que estas pausas habitualmente proporcionam na nossa equipa e que, aliás, a demarca das demais, a melhor do dia estava guardada para pouco depois, quando ao tentar retomar a marcha o Gazela se apercebe que tinha fechado a corrente do lado errado da escora. Barrigada de riso geral, ao ponto de fazer doer os músculos do rosto! Mais meia-dúzia de minutos para solucionar o problema recentemente "inventado" e voltou-se à estrada.

A pausa parece ter deixado alguns com energia em excesso, em particular o Marco que dá o maior safanão da jornada e ganha alguns metros ao pelotão. O único a responder prontamente foi o Rafael, embora não prontamente o suficiente para lhe apanhar a roda. Nesta altura chamo o Alexandre para a minha roda e lança-mo-nos em perseguição a 50 km/h acabando por passar o Rafael. A escassos metros do Marco faço sinal ao Alexandre para me render e este, mesmo dando a conhecer que não estava muito bem, acaba por me levar alguns metros na roda permitindo fechar os derradeiros metros. Ultrapasso o Marco  e tento fugir mas ele segura-se bem. Consciente da sua presença reduzo para um ritmo mais confortável. Alguns segundos depois ele prepara-se para me deixar ali pendurado mas foi traído pela sombra que permitiu que eu antecipasse a manobra e ao ver a minha reacção pronta decide abortar a iniciativa. Por momentos seguimos ao lado um do outro a trocar olhares desconfiados e a pedalar em pé e pesado até que ele assume a dianteira pacificamente, talvez conformado com o facto de não me conseguir largar ali. Até à nacional 118 segui quase sempre na roda, excepção feita a cerca de meio km em que passei pela frente mas em que, mais uma vez, o meu ritmo pareceu não servir. A média desta ligação após a pausa rondou os 42 km/h. Esperámos no cruzamento apenas 30 segundos até ao segundo grupo, sinal de que atrás de nós as coisas também não tinham sido propriamente pacíficas.

Quando o terceiro e último grupo passou mantendo a velocidade que trazia deu para notar as consequências que a "brincadeira" teve nas pernas. Com vento frontal moderado foi preciso aplicar-me para apanhar o comboio. A ligação ao Porto Alto fez-se, mais uma vez, em velocidade crescente, começando com uns modestos 28 km/h e atingindo os 38 a cerca de 3 km da Vila, sempre com excelente colaboração na frente. Mais uma vez destaco o trabalho do Marco na frente a dar o peito ao vento, com o seu pedalar pouco ortodoxo mas eficaz, a fazer-me pensar lá atrás de onde raio poderia vir tanta energia. Pelo caminho cruzámos-nos com o Nuno, que não pode estar em Alverca para a partida mas que veio ao encontro da equipa.

Após a pausa para café no Porto Alto chegava a hora de enfrentar o vento da recta do cabo. A maioria dos 10 km foram batidos pelo Nuno, compreensivelmente mais fresco que os restantes, impondo um andamento forte que chegou mesmo a causar rupturas no pelotão. O habitual sentido do vento fustigou principalmente os que se circularam pela direita, onde fiz grande parte do percurso sem ter tido oportunidade de me abrigar do lado oposto. Mas, como disse ao Gonçalo  (conhece-se finalmente o nome do nosso "benfiquista") quando me perguntou porque não me protegi, para eu ir melhor alguém teria de ir pior. Não foi, de certo, "sacrifício" vão.

Na travessia da ponte o Gonçalo destacou-se do resto do grupo mas ao ver que ninguém respondeu ao estímulo abranda em espera. Não tendo a intenção de discutir o topo acabo por adoptar um ritmo mais constante e apanhar uma preciosa boleia do Gazela conseguindo finalmente escudar-me do vento lateral. Desta forma dei por mim a escassa distância do Gonçalo quando este estava a 30-40 metros do topo. Quando me preparava para o transpor este acelerou um pouco em resposta e acabámos por disputar os últimos metros em conjunto com o Alexandre que aproveitara a minha roda.

Em Alverca cumpriu-se o ritual da mini junto do local de partida, no café "O forno". Pediram-se por engano 9 para os 8 que sobraram depois do líder Tomané e do cada vez mais moina Pedro Fonseca nos terem deixado para chegar a casa mais cedo. Num clima de descompressão trocaram-se dois dedos de conversa, afinaram-se pormenores para a próxima etapa e discutiu-se a prestação da que aí terminara. Cerca de 31 km/h de média pode não soar a grande feito mas é preciso não esquecer as paragens e o vento que se fez sentir no regresso e, claro, os esticões.

O Jorge já tinha confidenciado que na sexta feira na volta de Belas havia indicações do grupo estar a atravessar um bom momento de forma e no Domingo acrescentou: "Este ano vai ser complicado, se eu não tenho cuidado fico p'raí de "patas" pro ar. Querem dar cabo de mim". De facto, o grupo está bom e recomenda-se. O nível subiu significativamente, principalmente dos que ousaram desafiar o rigoroso Inverno deste ano a pedalar. Tem sido um privilégio pertencer a este grupo e assistir a esta evolução. Agradeço a todos vossa disponibilidade e colaboração. Foi um excelente "passeio", malta!

5 comentários:

  1. Olá pessoal

    Em 1º lugar quero apresentar as minhas desculpas a todos aqueles que na sexta feira tenham esperado por mim no café Corte Real, é que fiz mal as contas e quando lá apareci eram 8:25 e tambem por no Domingo não ter ficado para a cervejinha preta é que tinha que me despachar para o almoço de Pascoa em familia.

    Quanto á volta teve sempre momentos de grande intensidade, sobretudo quando o Gazela se enganou a fechar a corrente.....(estou a brincar e não me leves a mal).

    Agora a sério, o pessoal é todo 5 estrelas e em relação á volta embora fosse curta (devido á Pascoa), foi sempre disputada a grande velocidade, o que deu uma boa média, não mais elevada provavelmente devido ao vento...

    Para o proximo Domingo já temos percurso?

    Continuação de boas pedaladas

    Um abraço a todos

    Pedro Fonseca

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  2. Boas!
    Muitos e muitos parabéns ao Edgar pela escrita das crónicas...estão como o vinho do Porto, cada uma melhor que a última.

    Em relação ao último domingo, mais uma etapa excelente. Deu logo para perceber que ia ser rasgar pano até ao fim da peça. Alturas houve em que pensei estar a disputar um contra-relógio por equipas, mas só com uma equipa...a NOSSA.

    Passei pela frente em parceria com o Pedro unicamente na primeira abordagem da recta do cabo. A restante etapa foi nas rodas do pessoal.

    Um bem aja á ferramenta do Tomané (calma, não pensem outras coisas), pois sem ela era de todo impossivel retirar o elo da corrente do Gaza.

    De referir que na aproximação a Vila Franca não aguentei a marretada a dei o p***o mestre...

    Um muito obrigado a todos e mil desculpas por vos fazer esperar...

    Abraço a todos

    Rafael Monteiro

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  3. Olá a todos

    Mais uma volta em grande, ou seja sempre em grande, esse é e será sempre o lema dos CICLOMOINAS.
    Uma etapa rápida era o que se esperava pois os kms também não eram muitos, uma boa colaboração entre todos e no final tudo bem disposto.
    Estando a pairar alguns comentários de rua, que os CICLOMOINAS estariam a chegar ao seu fim, aqui fica mais uma vez bem vincado a união do grupo e a satisfação entre todos.

    Um viva aos CICLOMOINAS.

    PS - Digam lá que a minha ferramenta não é milagrosa!!

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  4. Gostei muito deste domingo, estou certo que vamos ter um grupo competitivo e bastante cordial, pelo que só devo me dar por satisfeito e agradecido, lá estaremos no próximo domingo para novas aventuras. Um grande abraço aos ciclomoinas.

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  5. Olá Moinas
    Boa volta para rolar as pernas,mesmo não sendo o meu terreno preferido.
    Sobre a corrente a partir de agora será uma especialidade minha :), mas o que interessa é o bom ambiente..
    Bons treinos
    Um abarço
    Gazela

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